quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Amo ser mãe, maaas...

 Sempre quis ser mãe. “Aos 30”, pensava eu ainda adolescente, porque sabia da responsabilidade em criar bons alicerces pessoais pra ser “uma boa mãe”. Uma inteção nutrida por 20 anos de muito estudo, convívio e realismo.


Tracei um plano de carreira em volta das limitações conhecidas e um “plano de fuga” pro que é tão individual (e sim, precisei acioná-lo algumas vezes pra não me perder completamente). Sabia que um emprego CLT tinha suas delícias de uma previsibilidade e certa estrutura, mas também via uma expectativa de presença e performance que eram imcompatíveis com a necessidade biológica, neurológica, emocional e social de crianças que tinham seus momentos mais sensíveis e sucetíveis terceirizados (e sim, quanto mais vunlerável a mulher, menor o poder de escolha sobre a qualidade desses cuidadores "secundários"). Empreender era - como uma perfeita lei newtoniana de Ação e Reação - de uma liberdade absurda, que exigiria um comprometimento sobrehumano - e, empiricamente, sabia que a resiliência, a inteligência emocional e muito jogo de cintura seriam indissociáveis com ou sem filhxs.


Hoje atuo transformando histórias em pilar estratégico de marcas pessoais, e organizar dados empresariais que fortalecam cultura e branding.

Ora ora, isso é intrínseco ao cuidado pra que nossas crianças se percebam protagonistas e saibam a riqueza dos seus saberes...


É mortificante lidar com mentoradas que chegam debilitadas emocionalmente, menosprezadas profissionalmente, limitadas afetivamente, porque a maternidade foi “vendida” como (mais) um papel socialmente compulsório que prometia a plenitude existencial, mas que nunca tiveram sequer a liberdade de sonhar - quiçá questionar - caminhos diferentes.

Sim, eu amo ser mãe (assim como amo as gêmeas, fruto e razão de ser dessa vocação) e honro todo o sacro-ofício porque foi uma escolha planejada. Mas não é pra qualquer um.

Minhas filhas precisarão conviver com pessoas que ainda vem de lares silenciados e que só se expressarão na dor, porque ainda existe um enorme tabu na não-maternidade.


É de uma responsabilidade enorme, e com tanta exigência - e negligência - do capitalismo, que requer uma sabedoria enorme enão vejo jamais como uma decisão de egoísmo. Mulheres que repudiam essa escolha devem estar igualmente feridas. Quando uma Larissa Pinta Preta for “desnecessária”, aí sim, teremos paz pra faar sobre novas gerações com mais liberdade e amor incondicional.


Obrigada por me lembrar porque eu amo meu maternar: eu pude escolher!

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

meu coração é de pedra...

mas se engana quem me vê como fria e dura.

sustento, conduzo, enobreço.

me lasco, esfarelo, despedaço.

por mim permeia a liquidez da vida. sou filtro de tanta coisa que as vezes nem se notam as águas que de mim brotam. brilho, mas não sou de enganar tolos. na verdade, meu valor não está em mim, mas pr'aquilo que sirvo.

só sou no outro. senão, apenas poeira. de estrelas.

terça-feira, 9 de junho de 2020

como se fosse da família

 ha semanas temos questionado o status quo de várias questões do nosso dia a dia. o isolamento social como estratégia pra desaceleração do contágio noa fez trocar roupas e sapatos por moletom e pantufas, cursos de produtividade logo apareceram com a convidativa procrastinação no sofa, a disparidade das tarefas domésticas se tornou mais evidente com as crianças também demandando atenção integral entre reunião no zoom que bem que podiam ser emails. passamos a higienizar tudo que entra em casa, serviços de delivery dispararam pq é preciso manter a diversidade nutricional.

mas no começo de março, meu marido e eu decidimos pela nosso retorno temporário da capital pro interior por entendermos a dinâmica nociva das grandes cidades: densidade demográfica e logística. ja explico.

minha cidade natal tem 4 linhas de ônibus, a locomoção é massivamente de bicicleta. mesmo em uberlândia, "capital do cerrado", uma pedalada de 1h incluía ida e volta pra cachoeiras fora da cidade onde dava pra ver as poucas dezenas de prédio no centro comercial. essa era minha dimensão urbana ate 2011, quando me mudei pra SP, e descobri a relação inversamente proporcional entre distância e valor do aluguel. podia gastar $500 numa casinha arejada e 2-3h pra chegar no trabalho, ou $1000 numa kitnet a 30min do escritório. sendo ciclista ativa, achei que economizar no transporte público valeria a pena. eu era a única a não surtar ou sofrer de insônia no trabalho. quando fui morar com marido no RJ, de 2012 a 2017, descobrimos outra realidade urbana: era possível morar a 30min tanto da praia quanto do centro, pagando pouco, mas ao pé das favelas. a influência ia pra além dos bailes que ecoavam madrugada a dentro e o intenso movimento nas ruelas de acesso ao lado do meu prédio. quando um dos "donos do morro" foi morto numa operação policial, todo o comércio fechou em luto solidário. sim, alem da segurança privada e impostos pro estado, todos também contribuíam pra segurança coletiva que eles ofereciam.

administrávamos apartamentos de temporada na Zona Sul e com isso tínhamos uma duzia de faxineiras "a disposição". entre aspas porque era preciso uma engenharia logística não so pra conferir os apês na saída do hospede, trocar o enxoval usado com o da lavanderia e organizar chaves e acessos das limpezas. tanto as faxineiras que moravam nas favelas ali perto quanto as da periferia que demoravam horas pra chegar preferiam fazer 6 serviços de 2h num único dia a ter que se deslocarem mais vezes. sair da favela, dependendo do dia, era um verdadeiro jogo de gato e rato. gastar horas em trens e ônibus lotados num trajeto imprevisível também. eu mesma fiz várias dessas faxinas (as vezes rendiam mais do que a gestão de temporada em si, mas principalmente porque o serviço precisava ser feito). era comum eu passar algumas horas conversando com elas durante o serviço e conheci tanto a limitação de perspectiva pela exaustão, quanto a garra e honestidade entranhadas no ato de servir. muitas se sentiram gratas por serem tratadas como gente quando dividíamos uma marmita decente que eu pagava. pausa.

no RJ aprendi muito sobre a real história da nossa colonização. a cultura escravocrata, a pompa de fachada da elite decadente, a submissão em cadeia imposta de senhores de engenho a feitores e desses a escravos que receberam da Coroa a promessa de moradia pos-Canudos e ocuparam os morros, hoje refletida entre o estado corrupto, o empresário rico e a mão de obra subvalorizada. a aberração arquitetônica das entradas de serviço e os uniformes brancos nos prédios herdados por jovens que vivem do ócio que acham natural serem servidos.

de volta a SP, passei a ter contato co culturas de equidade, pude testemunhar projetos emocionantes de alfabetização e empoderamento das equipes de manutenção, que agradeceram por terem finalmente entendido seu papel como essencial e sensível a percepção do cliente.

mas por mais que SP tenha a formação urbana mais heterogênea, a distância social e física se mantém. meu medo maior de contágio está no fato de um isolamento fajuto onde o zelador continua vindo diariamente pra limpar a piscina do prédio (a compra de uma capa pra interditarem foi descartada, afinal, ja "vai ter que pagar o funcionário de qualquer jeito, deixa ele trabalhando, oras!"). pegar transporte público, interagir com dezenas de transeuntes, se expor ao contágio não é o mais grave. isso a gente também faz a cada ida ao supermercado. o problema é a alienação, a desinformação, as políticas públicas que obrigada os trabalhadores de serviço - da faxineira ao caixa de supermercado - serem tao essenciais na manutenção da sensação de qualidade de vida da classe media-alta quanto uma equipe de saúde em momentos de crise sanitária.

daí nossa decisão de voltar pro interior entra e conflito. numa cidade co menor discrepância social aparente, melhor autonomia de locomoção, a pandemia semostra menos grave. e  alienação é fator comum a todos. a realidade do isolamento definitivamente acompanha da qualidade da cultura e da diversidade no ritmo pacato das cadeiras na calada ao fim da tarde, e com isso encontramos a única homogeneidade: estamos tão desconexos do todo que manter o conforto individual supera em absoluto olhar ao próximo com ais empatia. faz parte da família tradicional brasileira se achar superior, imune, privilegiado.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Sensível

É hilário observar pessoas que comem escutando música e respondendo whatsapp ao mesmo tempo, que cruzam ruas assistindo filmes e se acotovelam no metrô comseus livros sem se darem conta da movimentação ao edor.
Por outro lado é deprimente perceber oisolamento das pessoas e o estranhamento com demonstrações públicas de afeto - e digo com o mero abraço ou uma gargalhada - da falta de senso de direção, coletivo ou responsabilidade, de tamanha indiferença e arrogânciaque blindam nossa capacidade de empatia.

Nos acostumamos a acariciar a tela dos nossos smartphones apreciando silenciosamente a vida alheia recheada de filtros e citações, eperdemos o tato com as relações cotidianas que são notoriamente ais etéreas, descartáveis, rasas.

Nos isolamos em fones de ouvido e repudiamos os sons naturais do nosso corpo, nos irritamos com o som da cidade, recriminamos o choro de uma criança e afogamos em baladas cada vez mais altas que substituem o diálogo.

A gente se atordoa com os jornais, maratona séries e mede relevância por stories, e já não sabemos mais dialogar entre as diferenças políticas, esqueceos como correr suar sem programas mirabolantes ou gadgets ultraconectados, perdemos a capacidade de olhar nos olhos.

Carros cada vez maiores nos isolam do mundo, e com isso não sentimos mais a rua, o vento, a fragilidade da vida. Patinetes elétricos nos economizam vida - não,isso não é uma vantagem. Aviões mais apertados e menos cortesia pra gente ir mais longe e experimentar as mesmas coisas que outros turistas já listaram nas portais de reputação.

Pagamos cada vez mis caros por exclusividade, e ainda mais grana é aplicada em diversificação de fundos e tratamentos halopáticos, mas credo em cruz de precisar pagar por um produto orgânico ou usar seu tempo pra cozinhar o próprio alimento.

Tempo? A gente mede em compromissos, em metas, em likes, em viagens, em atualizações de bens de consumo.

Qual foi a última vez que você se olhou no espelho sem críticas, tomou banho por estr feliz e não pra disfarçar o choro, que acordou antes do despertador porque seu corpo já saciou? Qual a última vez você beijou aquele mesmo alguém por mais de 2min sem se preocupar com o que viria depois? Você se lembra de tter chorado de rir esse ano? Ou de ter pedido colo sem  receio de se explicar?

A gente tá sensível. intolerante. A lactose, a demora, ao difernte. A gente perdeu nossa conexão com nosso sensorial.

quinta-feira, 28 de março de 2019

Sobre mentores pra vida

Desde meu desligamento, tenho estudado ainda mais e buscado cursos, ouvido podcast, maratonando youtubers de conteúdo e documentários.
Levantar, passar um café, alongar e revesar entre o computador, o celular e livros - sim eu leio alguns simultaneamente.

TODOS tiveram um mentor que os guiaram até esse ponto.

As referências vão desde mães e chefes/colegas a celebridades notáveis e gurus mainstream.

Por mais que eu tembém tenha essas mesmas referências, na minha vida minha principal mentora e inspiração é uma mulher mais jovem, que passou o chapéu no natal em família depois de uma apresentação de trapézio no alpendre de casa, comprou passagem só de ida pra outro continente sem falar o idioma, faz workexchange há 4 anos e tem fobia de grandes capitais e ultracapitalismo, casou como Chico Bento mas hoje são a tradução literal de petit ami, e nesse exato momento está mochilando com uma bike de 3ª mão pelo caminho de Santiago de Compostela, entre uma temporada num serviço temporário e um curso de construção biosustentável, que chegou a morar num carro que gastou mais de manutenção que seu valor de mercado (e esses dois montantes são menores que o aluguel de um apê aqui), e que me pediu de presente um spa-day pra sua depilação anual quando voltasse de viagem e um celular novo porque a grana que ela tem mal dá pra comprar cigarros.



Essa pessoa é a minha irmã caçula. E ela não é minha heroína nem um exemplo pro que eu quero ser. As vezes é o absurdo oposto do que eu tenho construído. Mas é exatamente essa liberdade e inspiração mútua sem cobrança ou expectativas, esse entender silencioso sem julgar uma a outra, essa opinião gratuita e amorosa feito remédio amargo seguido de beijinho no machucado. Se eu preciso tomar uma decisão crucial, penso em tudo que ela poderia me dizer. Rio e desprezo a maioria dos comentários imaginários (óbvio!), e posso sempre contar com a franqueza das mensagens que demoram dias pra ser respondidas (e não raro chegam depois da cagada pra celebrar que eu devia ter feito diferente.)

Minha mentora pra vida é alguém que muitas vezes eu quero colocar no colo e deixar ela chorar horas sem explicar nada, e que sabe que eu vou rir de dar câimbra mesmo se eu achar um absurdo (afinal, se ela tá feliz, é a isso que vou gargalhar!) e que tem o instagram mais misterioso do mundo mas me faz de backup pra cada foto nossinhoradeusmelivremasquemmedera...

Minha mentora mal sabe o rumo da própria vida. E muitas vezes ela é quem tá no divã. E é essa necessidade mútua que faz dela meu maior exemplo: frágil, tola, hippie e contraventora, mas igualmente honesta, íntegra, solta e crente em algo muito maior do que a si mesma que está contido inteiro dentro de cada borboleta no estômago.

domingo, 27 de maio de 2018

Minorias

Essa palavra sempre me incomodou. E muito! Como assim que uma parcela tão expressiva, que fecha ruas e tem dias internacionais pra celebrar suas lutas e causas, é "menor"?
Mulheres, gays, negros... minorias?

Aí que a semântica social veio e me doeu mais ainda; Não é pela proporção de pessoas, mas pela pequenez da sua essência no meio. Menor de desprezível, e não de pouca gente.

Essa dor é ainda maior!

Como assim que mais da metade dos seres humanos, sem as quais a vida não existiria, que tem instintos de atenção dispersiva e de zelo, que tem o corpo em ciclos idênticos aos lunares, são menores?
Como assim que a expressão do amor que não se atém puramente à reprodução animal é tida como uma subversão do que nos diferente animais irracionais e nos tornam sucetíveis a sentimentos bons de carinho, alegria, paixão, envolvimento, hedonismo positivo, expressão artística, criatividade?
Como assim que uma etnia que cientificamente gerou todas as outras há milhares de anos é tida como inferior mesmo que sejam admitidos como os mais fortes, tenazes, adaptáveis, leais às raízes?

Quisera o Universo que eu nascesse meio termo: mulher criada em um lar feminista cujo pai me ensinou a ser amazona do meu próprio conto de fadas; bissexual que encontrou num homem o respeito à sexualidade diferente que só traz uma intimidade menos reprimida; pele branca com cabelo blackpower que me permite questionar dresscode corporativo que incentivam terninhos cinza e chapinhas sem me sentir ameaçada.

Cara, sério, só alguém realmente menor pra se fazer valer de poderes impostos e elitismos presunçosos...

sábado, 23 de setembro de 2017

Vida Nerd

Sempre fui nerd. Nunca fiquei mais de 2h estudando e normalmente era a primeira a acabar as provas. Tenho uma inteligência normal, dentro dos padrões de pessoas comuns. Fui bolsista integral na faculdade por ficar em primeiro lugar geral no vestibular (de uma faculdade privada do interior enquanto estudava pra federais concorridísimas)

O que me fez ser "mais inteligente" que as outras pessoas foi VIVER O MOMENTO PRESENTE. Eu estava inteira na sala de aula, absorvia cada palavra como se fosse vital, e saindo dali buscava experienciar tudo. Respirar mais profundo para acalmar - psicologia elementar - e a enxaqueca que me dava por desidratação e fome - biologia básica - do vento que criava atrito - física elementar - e precisava mudar a marcha da bicicleta - mecânica - e reconhecer o que me fazia mal pro estômago - nutrição e química orgânica. A gente lia e escrevia com um dicionário do lado  e saber que se bebemos 2L de leite por dia era preciso uma caixa de longa vida por semana e compensava comprar no atacado - matemática financeira - e que se eu pedalasse mais forte indo pro ballet eu já podia pular o aquecimento e podia treinar meus passos falhos antes da aula - fisiologia.

A gente aprende muita coisa na escola que é extremamente útil, mas ninguém nos ensina a aplicar esse conhecimento. E esse é o maior aprendizado que meus pais puderam me dar, como professores por carreira e por vocação: viver! Vivenciar!